Uma rua qualquer. Uma pessoa de raça preta tem defronte quatro PATRIOTOS. Um deles é o líder.
PATRIOTO 1, que tem uma cadeia na mão, com a qual ameaça o preto, que é um imigrante.
PATRIOTO 1: Volta para o teu país, preto de merda!
Bate com a cadeia no chão para causar medo. Consegueo-o. PRETO está encurralado contra uma parede, não pode fugir. Está com terror.
PATRIOTO 1: Vais aprender que a gentalha como tu não cabe neste país, porque vocês são animais, são macacos...
Os quatro PATRIOTOS riem. Todos cinco PATRIOTOS acostam-se ao espaventado preto.
PATRIOTO 1: E agora, vais receber a mais grande lição da tua vida... E vais ir embora deste grande país tu sozinho...
Nesse momento entra pela lateral oposta uma mulher anciã. É CIGANA e vê-se claramente na sua maneira de vestir tradicional, com roupa preta, até com um lenço na cabeça. Caminha descalça.
CIGANA acosta-se a PATRIOTO 1. Abre passo com os cotovelos até alcançar PATRIOTO 1.
CIGANA: Mal filho, maldito sejas. Como podes fazer-me isto a mim?
PATRIOTO 1 detém-se. Vira-se para a mulher. Começa a falar para ela.
PATRIOTO 1: Tu, que me...
CIGANA (muito zangada): Que modo é esse de falares para a tua mãe?
PATRIOTO 1 (a hesitar): Eu... mas...
CIGANA larga um grito que paralisa PATRIOTO 1.
CIGANA (a berrar, mexendo os braços): Nunca nenhum dos meus filhos me falou assim! E tu, meu filho preferido, falas-me como se eu fosse uma estranha, quando perdi os meus melhores anos para seres algo na vida, para creres que és um destes, quando és tão cigano como eu! Vou fazer que os teus antenados façam cair a maldição sobre ti!!
Nesse momento soa um relâmpago. Os quatro PATRIOTOS olham para cima, têm uma expressão de terror.
PATRIOTO 2: Eu não quero ter nada a ver com ciganos, e menos ainda se lançam maldições!
PATRIOTO 3: Vai embora, traidor, mentiroso... Não és um dos nossos!
PATRIOTO 4 (para PATRIOTO 1): Apodrece tu, cigano!
PATRIOTOS 2, 3 e 4 saem, a murmurarem entre eles algo incompreensível.
PATRIOTO 1 (ameaçante): Oi, tu, cigana...
CIGANA larga uma bofetada a PATRIOTO 1 que soa bem forte. PATRIOTO 1 fica chorando como um miúdo. A cadeia cai para o chão.
CIGANA chega-se a PRETO.
CIGANA: Como é estúpido este filho meu... Que falta de respeito para a sua mãe. E agora, onde é que deixei eu os óculos?
CIGANA procura num bolso do avental. Encontra-os e coloca-os. Depois olha para PATRIOTO 1.
CIGANA: Á, caralho, mas tu não és o meu filho. Tu quem és? Queres que te leia a mão?
PATRIOTO 1 levanta a mão, tem intenção de bater na anciã, mas ela é mais rápida e dá-lhe uma bofetada que soa muito forte.
CIGANA: Tens sorte que não sou a tua mãe. Senão, ias tu apreender o que significa respeito. E despacha-te, que vais haver trovoada
!
PATRIOTO 1 sai correndo e gritando: «Mamããããeeeeee!!»
Escuro.
© Frantz Ferentz, 2021