— E cada vez que não consigo o meu propósito, ressoa essa voz na minha cabeça que me diz que sou um fracasso, uma desilusão —explicou a Carolina.
— Essa é a voz do seu subconsciente —explicou a psiquiatra—. Mas sabe uma coisa? Depois de tanto tempo, já sei a quem pertence essa voz.
— A quem, doutor?
— A sua mãe. Ela é uma mulher dominante, sempre influiu na sua vida. Eu sei que você ama sua mãe, mas tem que apreender a dizer «não», rotundamente. Entendeu?
— Entendi.
No dia seguinte, a Carolina ficou subcampeã no campeonato de provas matemáticas da região. Bem logo, a voz da mãe berrou na sua mente: «Estou desiludida contigo...». Porém, a Carolina não deixou acabar a voz da cabeça e disse-lhe: «Cala a boca!!». A voz calou-se.
Por primeira vez, em muito tempo, a Carolina dormiu muito tranquila naquela noite. Sim, tinha razão o psiquiatra, ela amava a sua mãe, mas tinha que quebrar as cadeias de dependência que tinha com ela. Talvez de manhã ligaria para ela e dir-lhe-ia que a amava, mas nada de vozes na sua cabeça, isso não.
& & &
Quando às cinco da madrugada, a Carolina acordou porque tinha vontade de ir à casa de banho, demorou uns segundos a perceber que ao pé da sua cama havia uma figura humana. Reparou melhor e viu uma mulher idosa ensopada pela chuva do exterior e com uma mala de rodas ao seu lado. Tudo indicava que acabava de chegar. A Carolina perguntou:
— Mãe?
E a mãe simplesmente disse em tom de reprimenda, em quanto a água da chuva ainda lhe caia pelo rosto:
— Tu a mim não me mandas calar a boca na vida, entendeste?
© Frantz Ferentz, 2020